terça-feira, 13 de agosto de 2013

Guitarrista Tony Iommi conta vida trágica em autobiografia

Em meio à verdadeira enxurrada de autobiografias de rock stars que estão sendo publicadas, a do guitarrista Tony Iommi, do Black Sabbath, é uma das mais novas a sair no Brasil.
Tal como o vocalista Ozzy Osbourne, seu parceiro de Sabbath, havia feito em Eu Sou Ozzy, ele conta sua trajetória de vida e carreira musical nas 400 páginas de Iron Man:  Minha Jornada com o Black Sabbath.
Iommi é o cara de aspecto soturno que faz a linha durão dentro do Black Sabbath. Bom de briga desde os tempos em que tinha de enfrentar as gangues de Birmingham, sua cidade natal, na adolescência, ele é aquele membro da banda que fica de "cara" (nem sempre, é claro) enquanto os outros estão doidões, para manter as coisas sob controle.
Se hoje faz parte do clube de roqueiros respeitáveis, com a banda devidamente entronizada no Rock'n'Roll Hall of Fame, Tony já passou por poucas e boas.
O título Iron Man (Homem de Ferro) faz referência a um dos rocks mais famosos do Sabbath, mas certamente é uma alusão ao fato de ele ter sobrevivido a muitas barras.
A mais famosa delas, a perda das pontas de dois dedos da mão direita -  a que ele, canhoto, usa para pressionar as cordas no braço da guitarra - num acidente de fábrica quando tinha 17 anos.
O braço e a mão direitos seriam nos anos vindouros fontes de eternas dores, com problemas de  túnel carpal, rompimento de tendões,  mordidas de rottweiler e  a desintegração da cartilagem na articulação do polegar. Assim, tocar para ele sempre foi um processo doloroso.
Avó brasileira
Para nós brasileiros, a revelação mais bombástica do livro é que a avó paterna de Iommi, que ele não conheceu,  seria brasileira. "Acho que minha avó era do Brasil", revela logo no primeiro capítulo. E fica só nisso.
A tradução da edição brasileira, aliás, erra quando, após esta frase, o músico diz que seu pai nasceu no Brasil. No original em inglês ele diz que o pai nasceu "aqui", ou seja, na Inglaterra.
A sina pesada de Tony Iommi começa já na infância, quando soube que o pai não queria que ele nascesse. "Ele me menosprezava o tempo todo e depois minha mãe se juntava a ele".
Por aí dá para concluir de onde vem tanta amargura na música do Black Sabbath. O som soturno e inimitável tirado da guitarra, aliás, é fruto da técnica que Iommi desenvolveu para compensar o problema dos dedos, utilizando dedais que ele mesmo inventou. Típico de  males que vêm para o bem.
Bem dele, é claro, já que para muitos o Black Sabbath é uma banda do demônio. A própria música que dá nome ao grupo surgiu de um lance estranho. O riff sombrio de guitarra que Iommi criou era, sem ele saber, baseado numa sequência de acordes que foi proibida na Idade Média e era chamada de "intervalo do Diabo".
O marketing em cima do satanismo e da magia negra que perpetuou a imagem da banda   também a estigmatizou, atraindo topo tipo de maluco e satanista, que achavam que aqueles bigodudos de Birmingham levavam a sério a coisa.
Na verdade, segundo Iommi (e o próprio Ozzy em sua autobiografia), eles tiveram este saque quando viram uma fila enorme de gente para assistir a um filme de terror no cinema.
Escreve Ozzy em sua biografia: "'Não é estranho como as pessoas pagam para sentir medo?', lembro de Tony ter falado isso um dia. 'Talvez a gente devesse parar de fazer blues e começar a escrever músicas de medo'".
Chega a ser risível levar a sério a imagem satânica do Black Sabbath, quando o grupo quase se borrou - como Iommi narra - quando foi assistir ao filme O Exorcista nos anos 1970.
A narrativa de Iommi está longe de ter o humor quase pastelão da de Ozzy, mas é sincera e sem ressentimentos. Nem é preciso dizer que toda a história é recheada de sexo, drogas e rock'n'roll.  E tragédia, como as mortes do baterista Cozy Powell e de Ronnie James Dio.
O músico fala de todo o processo da saída de Ozzy no final dos anos 70, quando o cantor vivia uma fase quase letárgica. "Foi triste... a situação chegou a um ponto em que não dava mais para nos relacionarmos... Eram tantas drogas circulando... Ao que parece, Ozzy pensa que a iniciativa foi minha, mas apenas decidi em nome da banda..."
Não parou aí. Nas décadas seguintes o Black Sabbath seria palco de um interminável entra-e-sai de músicos, de voltas e reviravoltas de integrantes originais, e somente Iommi permaneceu desde o início.
Houve o problema com Ronnie James Dio, substituto de Ozzy, que teria mixado na surdina o álbum ao vivo Live Evil. Já o ex-Deep Purple Glenn Hughes, então totalmente dodói de cocaína, tinha de ser empurrado na tora para o palco, até Iommi não aguentar mais.
Houve também os casos de vocalistas novos que inflaram o ego e também tiveram de receber as contas de Mr. Iommi, como Ray Gillen e Tony Martin.
"Muita gente subestima o quão durão você precisa ser quando lidera uma banda", escreve o guitarrista. "Você sempre vira o escroto. As pessoas não entendem, não estão lá e não veem tudo o que está acontecendo, o porquê de você acabar expulsando alguém".

Câncer
Quando a biografia foi publicada em 2011, Iommi  ainda não havia sido diagnosticado com linfoma. Mas, a julgar pelo capítulo final do livro, ele já parecia saber ou sentir algo: "Só o que espero atualmente é, daqui a alguns anos, ainda estar aqui. Gosto da vida que tenho agora, de verdade".
Em maio deste ano, divulgou que os médicos lhe disseram que o câncer não poderia ser curado 100%, o que foi outra barra para o Iron Man.
De qualquer forma as coisas não poderiam estar melhores em 2013. Para começar, 13, o disco que lançou com quase todo o Black Sabbath original (menos  Bill Ward), chegou ao topo das paradas.
E agora eles estão na estrada novamente, uma estrada que em outubro trará Tony Iommi de volta à terra de sua avó. Chance única de ver o Homem de Ferro mandando seus riffs infernais  em palcos brasileiros.